31.7.04

não tinha trilha sonora, nem piano e nem nada. só a minha visão meio turva e a vontade.
subi no armário e enxerguei facilmente a caixa de sapato rosa com uma mulher bonita na tampa. a caixa era pesada e foi com cuidado que eu tirei ela dali e a trouxe para o chão do quarto.
sem ninguém olhando, sem barulhos, eu tinha a privacidade total para fazer o que eu queria já fazia um tempo e foi então que comecei a vasculhar. eu preciso de uma história, não exatamente outra, mas quem sabe a mesma em imagens, em desenhos isolados que pareçam não desmoronar todos os conceitos que as freiras tentavam colocar na cabeça dos alunos e que há muito, já haviam caído pra mim.
uma vez que não havia coração tão forte, foi na carteira que eu encontrei o que queria: dois avulsos em preto e branco num papel pequeninho. tudo antigo, tudo do começo. começo esse que, diga-se de passagem, eu desconheço completamente. antes ainda, quase... afinal de contas, ninguém foi poupado da história do cobertorzinho azul. mas acredito que aquilo seja pura invenção, assim como quase tudo.
uma péssima invenção, de muito mal gosto. mas há quem apoie...
o papel é velho mas as caras são novas, bonitas e sem preocupação alguma. naquele fashion dos anos 70. em uma delas está escrito: 26/01/1973.
mas nessa época não sei se eles já eram dois. agora é tarde e esse tempo é irrelevante. tem caixinha pra todo mundo e eles vão ficar separados mesmo, melhor assim. a distância faz bem às vezes.
e eu separei todas as latinhas, tentanto organizar o inorganizável, como sempre. eu insisto.
encontrei ainda uma certidão datada de 17 de novembro de 1984. certidão que não pode ser nem falsa, nem invenção: "o referido é verdadeiro e dou fé."
mas antes não tivesse dado... se bem que, olhando assim, acho que não faria muita diferença. é que apesar da casa ser praticamente transparente, tem ainda muito coisa que não deu pra ver.
não sei o que pensar a respeito, só sei que preciso sim de uma história. eu já tenho uma, mas é desagradável demais essa...
já começou tudo errado mesmo, então errado deveria continuar e terminar pior ainda.
os pontos finais da vida às vezes são bem duros. e enquanto cada um segue a sua vida assim sem sentido, eu nas caixinhas de ferro vou montando a minha família.
porém, continua cada um na sua caixinha. é que algumas coisas depois de 23 anos, não tem como mudar...

a 23 anos chegou braba em casa porque brigou com o namorado. inútil.

música de fundo: sigur rós - staralfur
há alguns anos atrás ela quebrava pratos no antigo moinho dizendo que quebrar alguma coisa acalmava os "ânimos".
hoje eu sei que aquilo na verdade não servia para nada, a não ser para aumentar a despesa e ficar mais pobre.
agora ela quebra a cara e não tem desculpa pra isso.

29.7.04

como é bom tê-lo aqui sem hora marcada, sem campanhia ou telefone tocando atrás dele.
- mas por que tu faz isso com a comida, guri? tu come parece um porco, um cachorro!
e nós demos risada... e foi como um cachorro que ele pulou em mim e me derrubou no chão e então nós éramos dois cachorros rolando no piso da cozinha enquanto minha mãe pedia para pararmos com os gritos. mas que parar o quê! nós continuamos e muito mais.
- agora sobe aí e vem na minha garupa.
- mas tu me derruba sempre!
- ai, sobe aí vamo.
- me larga! ô guri, me larga, olha aí!, vai me arrebentar o braço!
- se tu não subir aí eu vou arrebentar. hahahahaha.
- hahahahaha.
...
- olha minha perna! gordo pançudo! tu deu com a minha perna no marco da porta!
- ai, tudo te machuca fracotinha.
e ainda brincamos muito mais.
é ótimo ver a carinha dele iluminada pela alegria de estar aqui, em casa, na casa de verdade sua. é bom eu poder aceitá-lo agora sem a raiva pilhada de anos atrás. é bom...
somos só nós acordados, no quarto. somos a nossa mini-família de dois dentro da pequena-família de cinco, e somos mais felizes juntos por toda a segunda.
gosto de saber que amanhã terei companhia para o almoço, principalmente porque a tal companhia será ele. ele com suas piadas sem nenhuma graça... "qual a diferença entre tu e o toco? tu é menor que ele. hahahahaha."
rindo, com as faces coradinhas, rosas. mostrando os dentes de pura faceirice. falando do colégio e da aula detestável de religião. e as brigas por causa do gato.
hoje é quarta-feira e não fim de semana. gosto de saber que ele dorme seu sono calmo (hoje) no quarto ao lado.
meu irmão no meio da semana e também nos outros dias se parece comigo.

música de fundo: smashing pumpkins - o the mellon collie and the infinite sadness

27.7.04

talvez seja porque agora eu não tenha mais namorado...
mas na semana passada, na vinda do apollo, enquanto eu estava colada, apertada e esmagada contra ele por motivo de falta de espaço dentro do pálio 4 portas, só o que eu queria era virar a cabeça num giro curto, para cima e suficiente para alcançar exatamente o que eu queria. mas não...
incrível, mas na vinda do show do augusto confirmei o "episódio", ou pra ser mais exata, a sensação dessa semana passada, agora muito mais intensa: nossos olhares se entendem.
do corpo nada sei, mas dos olhares... que não se encontram do nada, mas propositalmente; que se falam, se comunicam, se compreendem. telepatia meio avançada essa nossa... mas ainda acho que ele diria não. coisas da vida, meu caro.
voltando a um projeto de 3 ou 4 anos atrás, só que agora bem mais maduros. assim, assim...
e a mão dele na minha cabeça; a cabeça dele no meu ombro; a minha mão por debaixo da toca. e meu deus!, como isso vai se dar?

a propósito, esse show do augusto estava muito bom com direito a uma destruição cavalar e pãrchismo ao extremo, o que não me permite ficar triste por pelo menos uns 5 dias.
jean atirado numa cadeira, pálido, com cara de morto e com uma apresentação às 11h da manhã no theatro são pedro.
abraços espontâneos de todos os lados: - ah guria, mas tu é bem pequenininha!
hino do rio grande do sul bravamente cantado aos berros, como sempre.
- do marco pra cá é galpão! eu tô num galpão!
- me traz uma picanha de javali ô cavalada!
- mas me acende esse fogo de chão ô boi com teta!
e saudações ao boca juniors e à alma castelhana, além de no outro dia alguns ainda se encontrarem no juliano para uma roda de chimarrão ao som de césar passarinho, vitor ramil e moby na frente do computador fazendo isso (avacalhação na piazada)*.
e jogo do brasil x argentina, claro.

*piazada são os caras de bem menos idade que moram no condomínio.
bom, pra quem não quiser ir lá...

22.7.04

quando os dedos já não tinham mais o que dizer (porque não havia mais o quê ou porque não conseguiam mesmo mais fazê-lo) e estavam tão moles quanto os olhos que já lacrimejam suas lágrimas até o momento poucas, mas fáceis; quando o corpo e a mente já se encontravam num estado de relativo cansaço, eu resolvi deitar e tentar dormir.
não o fiz. impossível!
missão impossível essa a que me destinei daquela forma.
após deitar na cama e cobrir toda a minha pequena extensão com as cobertas de lã, me protegi do mundo externo, mas e o mundo interno? no máximo, fechei os olhos inutilmente. lá me vinham as lembranças...
de um fato, único fato, como sempre, fiz toda a minha longa analogia da minha ainda breve vida e dos 17 anos quase que praticamente todos perdidos. os anos...
as lágrimas começaram então a serem muitas e eu pensando, analisando tudo de novo, associando os "novos" aos velhos fatos em busca do motivo maior, tentando achar a razão de tudo.
e o velho ali, parado me esperando com os olhos verdes meio azulados.
sei que chorei por ele, por ele e por ele, por mim, pelo velho e pelos outros que eu chamo cuidadosamente de resto. sei também que o choro me venceu e que eu dormi com os olhinhos esbugalhados.
acordei de manhã com a cara em chumbo e como há muito não me sentia: como se enormes ondas tivessem passado por mim durante horas e horas.
aí não lembro de mais nada e me sinto imensuravelmente triste.
passei a tarde a estudar e depois fui ver um filme, lindo, chamado valentín.

20.7.04

~
mãos nervosas... dedos que tremem à procura do se sabe onde porém, não se sabe como. ou se sabe?
nesse caso, melhor esquecer.
os lábios apertados assim ( ) para não dizer.
calafrio e medo de mentirinha mas de verdade. melhor, era falta de coragem. também, coragem para quê mesmo?
"... não vale uma naba" e se vale, melhor esquecer nesse outro caso também. e quem sabe nesse mais ainda que no anterior.
melhor esquecer tudo logo de uma vez e com os dedos ainda a tremerem, apagar tão forte de forma a rasgar o papel que não há, os riscos imaginários na nota fiscal, na folha de ofício/ amassada de caderno ou guardanapo ali em frente.
dois
três
quatro
. seis.
e nada ao mesmo tempo. mas sonho... tudo isso notado.
a mão nervosa esquerda, vai usar o papel para limpar o refrigerante que se derramou.
~ de novo.
o leite está caro.
 
música de fundo: new radicals - maybe you've been brainwashed too

17.7.04

eu estava deitada na cama, as cobertas até o nariz, olhos e ouvidos abertos a observar e analisar os barulhos da casa, as vozes e os pensamentos além da minha porta fechada, nas outras peças.
conheço-as tão bem que não é preciso olho no olho ou maiores aproximações para ver e saber o que se passa com as mesmas.
foi quando ele apareceu sorrindo no pátio, abriu a porta e entrou na casa:
- macacada filha da puta...
- ah não! o que tu tá fazendo aqui, vinícius?
- vinícius, tu não ia viajar com teu pai? o que tu tá fazendo?
- mas eu nem tô fazendo nada!
- ah, hoje que eu pensei que tu ia dar um descanso pra mim... !
 
ela nunca o vê, só em raros fins de semana. acho que se arrependeu de ter esse filho... "ah, hoje que eu pensei que tu ia dar um descanso pra mim" "hoje que eu pensei que tu ia dar um descanso pra mim" "ah, hoje que eu pensei que tu ia dar um descanso pra mim"
a frase em eco na minha cabeça apesar da distância física ser bem menor que os 17m necessários.
 
e ele foi saindo com lágrimas nos olhos e barulho de choro.
a mais velha tentou remediar:
- volta aqui, vinícius! não vai embora!
- eu vou sim, eu nem fiz nada!
- deixa que vá!, a outra continuava.
 
e eu quase me contorcia porque homem chorando é coisa insuportável.
mulheres choram por motivos fúteis, quaisquer, mas homens só o fazem quando são realmente atingidos.
não posso ver homens chorando. carrego no xx, no útero, o peso e a culpa de poder gerar um outro homem que também venha a chorar. causa: a existência.
pecado, mas eu disse vagabunda debaixo das cobertas e continuei.
- luciana!
quando ela me chama me finjo de morta às vezes. e fico sem almoço.
 
depois, fizeram as pazes sem ter feito coisa alguma.

16.7.04

nostalgia não combina com saudade, só com tristeza.
saudade lembrança triste e suave de pessoa, situação ou coisa ausente ou extinta.
saudade combina comigo.
- depois eu te ligo.
mas claro, não ligou. também eu seria tola em esperar que isso acontecesse.
e  aí segui a passos lentos e cabelo desgrenhado pelas calçadas molhadas, lembrando de outros tempos. eu e ela.
"ela compra bolachinha e dá pra todo mundo menos pra mim."
o que foi engraçado lá, ali não foi e eu fui pra casa com a cabeça encostada ou escorada mesmo na janela.
 
ah, www.elephantmovie.com

11.7.04

o gosto amargo na boca hoje de manhã que não sei, mas não saía de jeito ou maneira.
e o beijo ontem foi automático e inevitável diante de cena tão linda embora tão dolorosa.
o que eu não contei foi ele segurando a cabeça entre as mãos e deixando as lágrimas escorrerem ou jorrarem livres dos olhos por toda a face, as lágrimas salgadas apesar da cena doce e da voz mansa dizendo que achava que ia se matar.
e claro, eu ali do lado, incrédula.
- eu acho que eu nunca mais vou te ver mesmo...
- mas o que que adianta? só o que muda é que eu não te vejo.
e essa última frase funcionou como um soco na minha boca. um xingamento sem nomes feios, que ele nunca me diz, da parte dele.
isso tudo depois da morte da alface, com a vitrola, os dicos de carvão e uns livros muito velhos mesmo: o meu quinhão na história toda.
e ele fez uma pergunta para a qual como resposta eu só ri cinicamente no canto da boca, mas sem mover uma carne que fosse externamente. não disse nada e para aquele estado, melhor assim.
- mas tudo o que eu fazia era em vão. agora que eu te perdi, eu não vejo mais nem motivo para fazer alguma coisa.
e aí me surgiu a idéia que ia sendo estudada a cada letra que ia simultaneamente sendo dita:
- mas então eu sou só um vão a mais. tu te apóia em mim por tudo o que não fez, pelo que tem medo, pelo que não é e não tem coragem de ser!
- não, não, não!
e ele chorava ainda mais.
incrível ou não, mas eu não conseguia sentir nada, nem sequer vontade de ir embora. meu olho frio olhava reto, só reto, atravessando-o inclusive. ele insistia em chamar minha atenção. só mais uma coisa em vão e isso desmacarou a frase dele pra mim.
- não quero te deixar triste...
- não é culpa tua.
mas eu senti a inverdade.
me abraçou forte, me apertou muito as costas e pediu pra eu prometer.
eu disse não. ele riu, me entregou o canivete.
- pra quê isso?
- eu quero te dar agora.
- não vai ter volta.
- tudo bem...
e eu subi no ônibus.

10.7.04

os dedos longos que me deram sincera inveja. mas não é disso que eu quero falar agora.
quero falar do dia 10 de julho do ano passado. desse dia que não sei se foi curto ou longo.
mas hoje já faz um ano...
agora eu sei o tempo, contadinho no relógio porque a essa hora desse mesmo dia do outro ano, eu estava desesperada sem saber o quê fazer. até porque não tinha nada mesmo que eu pudesse.
se foram os dedinhos pequenos que não se encaixavam entre os meus, mas eu chata, tentava. as mãozinhas que eram luvas naturais.
pêlos.
ficou a réplica e o nome no ar. o nome...
ele se foi, ficou um outro, cópia perfeita das maneiras, do jeito, das estações do ano. tudo muito igual, o que faz com que algumas pessoas ainda o confundam.
bobagens minhas assim... não mesmo! era o meu companheiro.
longas batalhas estavam sendo travadas naquele julho de 2003 e talvez eu não fugisse, não saísse correndo mais ainda por causa dele. por causa única e exclusivamente dele.
e quem não entende o que é ter um bichinho-alguém na vida?
tem gente que não entende...
- ah, eu achei ridículo. nenhuma pessoa do mundo iria embora de casa por causa de um passarinho.
foi o comentário da colega a respeito de um dos contos da lígia fagundes telles.
mentira. eu contestei bravamente, não sei se defendendo o meu bicho ou defendendo o meu lado bicho.
eu sinto saudade...
ele se enroscando nas minhas pernas enquanto eu ouvia música, lia, tomava café. sempre ele. ele quando eu estava nas mais tristes das horas e não tinha ninguém por perto, e eu não queria ninguém, mas abria uma fresta da porta pra ele, abria a janela e deixava ele entrar.
quando eu achava que aquilo nunca ia se dar. mas na verdade, eu mais ou menos estava pressentindo. mau, muito mau pressentimento. e mal também, uma vez que me fez doente.
mas fiquei mesmo quando soube do ocorrido e esperava horas pela hora de ele chegar. mas ele, claro, nunca chegava. não podia mais.
- luciana, tu não vai ver ele antes de eu enterrar?
- mas claro que não! como que tu quer que eu veja ele ali, sem se mexer, sem vir até mim? eu não posso ver ele, não posso!
e no meio da noite senti vontade de desensacá-lo e escondê-lo aqui dentro mesmo.
era noite, um frio de rachar como hoje. ele que sempre fora quentinho, agora estava gelado, pedra, ali dentro daquele saco esperando o dia amanhecer para sempre.
com vaga lembrança e água nos olhos agora, não me lembro de ter dormido aquela noite.
mas a lua, maldita, insistia em brilhar no céu apesar da tragédia.

música de fundo: sonic youth - wildflower soul

4.7.04

nós acordamos razoavelmente cedo. aliás, foi cedo mesmo para um dia de domingo.

eu ri descontrolavelmente. a cena tinha sido engraçada.
acho que foi por isso que ele não falou mais...

um equívoco.
e eu me sinto culpada pelo silêncio dele agora.
ele disse fracasso mas o fracasso foi meu, eu acho. eu é que não consegui. eu tive que rir, não entendo o porquê.
mas agora é tarde.
acho que ele se sentiu mal.
eu senti qualquer coisa, sem-graça na hora. e foi só.
mas eu estou triste agora com isso.
não tem panos limpos para serem usados aqui, era tudo brincadeira. era sim senhor.
não sei o quê ele achou e pensei que era melhor não perguntar. eu faço perguntas demais...
por quê, por quê, por quê.
no fim eu menti que ia estudar e saí. ele continuou sem falar nada.

acredito que hoje eu tenha perturbado a paz de alguém.
meu deus, eu não presto!

but there was tomorrow.

3.7.04

eu só queria saber onde está todo mundo que não está comigo, acompanhando a música.
eu só queria saber em qual mesa, de qual bar. se na lima e silva ou se na república.
só queria saber se tinha alguma festinha hoje para a qual esqueceram de me convidar.
só queria saber até que horas, em qual carro ou se de ônibus. como chegar...
se vai ser cerveja, canelinha, rabo de galo, caipirinha... xis no speed. aquele xis incógnita aberta do speed.
mas tenho tanto sono, cansaço físico, mental. melhor dormir...
mas eu queria mais notícias, mais abraços calorosos de saudade e um beijo no rosto.
- bah, até me beijou hoje!?
- aaahhh, tu mereceu! pãrch!
não sei. um alô assim, menos preocupado, menos pedinte...
não queria isso: "sabe, agora eu te entendo, eu não procuro mais ninguém, não quero sair nem ver ninguém... não sei por quê, mas eu realmente preciso de ti."
tão frio em um e-mail de quem me "precisa" tanto.
e esse gosto já foi bom um dia com garrafa passando dessas duas mãos para aquelas duas mãos na frente da ,então, casa rosa.
na primeira vez em um mês em que eu resolvi carregar comigo o maldito telefone celular, ele tocou. "eu te ligo quando tu chegar em casa."
- fala, demônio!
- agora eu tenho que sair, meu namoro é uma bosta e depois aí pelas 7h eu te ligo.
17h e 30 min, 18h, 19h, 20h... e nada.
esqueceu. lembrou dele, esqueceu de mim.
eu sempre aqui. eu me preocupo demais em ajudar as pessoas. com ela, principalmente.
"eu vi isso e lembrei de nós...
um verdadeiro amigo: Já te xingou de tudo quanto é palavrão inventado e alguns novos." entre outras frases de "efeito" e realidade que chegam a ser impróprias até para o horário.
mas não me queixo.

e depois de quase meio ano ele resolveu me mandar uma carta contando da vida, dos seus problemas com o sexo feminino e o dilema pt ou pstu. "mas pelo amor do bom marx, quando tu responderes essa carta (com outra carta, é lógico) fala de ti também!"
valeu meu dia e eu fiquei feliz, andando com a carta resposta no bolso da mochila para entregar quando passasse pela casa dele, afinal de contas, tempos de crise, é preciso economizar até no correio.
um senhor estava conversando com a senhora da portaria do prédio quando eu cheguei.
- eu quero deixar uma carta para o tobias.
- cartas não adiantam mais... - disse o velho.
- ã?
mas ele não ouviu.
deixei a carta na caixinha do apartamento 1 e entendi o que o velho quis dizer. mas não. sou luciana demais para o tobias e sua trótskista de amor aberto e todo o resto.
é engraçado...

agora em que bar, todos aqueles que se conhecem e os que não se conhecem estão, eu não sei. mas daria um real para saber e me juntar a eles. à carine, ao tobias, aos da internet, mas principalmente aos pãrchs, para poder cantar "eu me apaixonei pela garota com cara de floresta" e "ovo, ovo, ovo, ovo...", roubar os cavaletes da eptc e trancar uma rua para rir dos motoristas em plena a madrugada.
sim, eu estou carentíssima. e apesar de achar que nunca iria dizer isso na vida, (depois que a pessoa vai ficando velha vai criando novas necessidades) acho que preciso de um namorado novo ainda que temporário.
eu gostaria de saber...

2.7.04

me irritei e pus tudo fora.
uma noite dessas, há pelo menos um ano e meio atrás eu caminhei 4 horas e meia contadas no relógio. era de noite, havia perigo. perigo coisa nenhuma!
eu nem preciso falar sobre o meu estado...
eu caminho com os calcanhares. minha coluna é torta. eu preciso praticar qualquer tipo de esporte. até ... ? até.
essa música no volume 15. guitarra, só guitarrinha e a linda voz dela. isso me lembra o cigarro dos outros, a fumaça dos outros, o meu copo cheio. isso me lembra ela completamente bêbada tocando... gritando. eu me emociono.
ele arrancou um pedaço do meu coração. mal posso olhar pro rosto dele. eu disfarço muito bem, eu me escondo assim bem. mesmo com as mãos nervosas e todo o resto.
a minha visão sobre ele se tornou insuportável. esses dias cheguei em casa e chorei.
mas ontem à noite ele gritou meu nome do outro lado da rua. não lembro bem dos fatos, dos acontecimentos, mas sei que nossas bocas se encontraram assim como se já tivessem se encontrado há muito tempo antes e tivesse sempre sido assim: perfeitos um para o outro.
pá! ouvi um disparo e não lembro de mais nada.
acordei do maldito sonho. acho que ele ficou morto por lá.
sobre a minha mesa tem duas xícaras vazias de nescau. com certeza de uma delas, não sei qual, eu bebi devagarzinho pensando que ele estava dentro. bebi em doses pequenas mas rápidas, engolindo-o por assim dizer, inteiramente.
eu quero inteiro.
mas ele me esburacou com a ** letra do alfabeto que soou grego ao meu ouvido e compreensão. o impressionante foi que eu consegui entender a mensagem.
filho da puta.
não agüento mais esse cabelo, quero uma franja. onde está o veado do vítor meu cabeleireiro?

música de fundo: cat power - what would the community think (o cd, porque eu tenho)