28.8.04

coisa que me deu um nó na garganta agora: 9 letras, schneider escrito em letras garrafais vermelhas num muro branco.
o supermercado e o caminho vazio áquela hora da tarde; os passarinhos, que dava para ouví-los cantar, escondidos atrás das àrvores que eu não me lembro.
e era quente, sem muito vento. morninho, como num filme americano desses de estrada descongestionada, mas não aqueles que se passam no texas, não, tinha muito verde.
a ida, a volta. e o incrível foi que ação banal como essa para aquela semana, quando eu devo ter feito aquele mesmo caminho pelo menos umas 4 vezes no banco de trás do carro, essa foi a que mais se destacou.
apesar da minha eterna curiosidade de saber o que havia lá embaixo do precipício e o porquê de todas aquelas cruzes no meio do caminho, as nuvens rosas, outras brancas, passando...
era campo só, tudo campo, para todos os lados e umas árvores, uns pinheiros, eucalíptos, não sei. e que alguém me desminta se por acaso eu estiver mentindo, inocentemente, bem de acordo com o tempo e o meu cabelo curto liso, liso arrepiado.
quando o carro parou e a gente desceu, e que eu me lembre só estávamos nós 2 num dia de bem, num dia feliz acho que pelo ar bucólico mesmo, a estrada era toda anil, se confundindo com o céu e era perfeito. os bicoitos stoffel, o café. a loja stoffel no meio da estrada que eu preciso encontrar hoje, num mesmo horário.
anos depois vi num livro de inglês uma foto com uma cor igual.
a bolachinha amanteigada com uma coisa branca por cima que eu nunca descobri o que era e que alguns tentavam me enganar dizendo que era merengue. mas não era.
e na hora de deixar a stoffel eu senti uma angústia, bem aquela minha angustiazinha infantil de quem está deixando o brinquedo preferido. é que dali mais um pouco eu sabia que o dia ia escurecer e virar noite e que de dentro carro, que não era conversível, não era mesma coisa que fora dele.
não sei se era deus as nuvens rosas e o anil do mundo ali em frente, mas já escreveu graciliano ramos: luciana é a guria que sabe onde habita o diabo. então talvez fossem os dois, e numa análise mais introspectiva e fechada, não eram mesmo?

música de fundo: o cirion tocando teclado aqui pelo msn.

22.8.04

não sei o que acontece depois de guitarras elétricas, mas quero mesmo muito saber.
depois de anos, da maturação das frutas, extremamente doces agora. e pelo menos para isso o tempo serviu.
um o lambuzo da outra.
e pecado meu no mais, é ilegal, manu chao e tudo o mais que enrolar a língua bem enrolada que ele entende muito bem.
e cinco minutos, eu não ouvi nada ainda. cinco minutos que eu ainda preciso programar, mas tudo tão artístico... porém, o conteúdo me é muito interessante e até familiar.
familiar entre aspas, assim assim.
mas eu disse programar? que programar que nada! vai sair tudo dali do lado esquerdo em mão direita, de um ar alegre e embriagado de falta de ar.
por enquanto, tudo num fim de semana que eu inventei, ou que fui levada a inventar, e como minha cabeça flutua, não foi difícil, muito pelo contrário, foi até fácil demais. e é justamente essa facilidade que me incomoda... facilidade essa que eu não tenho com matemática. e foi por muito mais do que apenas para resolver equações logarítimicas que eu fui atrás dele. mas foi tudo invenção.
de qualquer forma, prometo que se o telefone tocar vai deixar, no mesmo instante, de ser.

música de fundo: cumbias

21.8.04

no dia 18 de agosto, 18 anos.
num dia lindo, inédito e vazio. mais vazio do que tudo.
no mês do cachorro louco, a cadela não se deu conta ainda. ainda?
o dia mais importante, o melhor dia, o dia par com números iguais. e o nada sendo carregado junto com o resto pela chuva.
e o que adianta esse 8 no lugar do 7? só pra uma coisa: eu saber que agora ninguém mais "tem responsabilidade" por mim, definitivamente, e que eu preciso arrumar um trabalho e ir embora daqui. sair, deixar, para qualquer outro lugar pequeno, para qualquer outro cubículo onde caiba o meu quarto.
e entre uns parabéns esquecidos "a mãe esqueceu de te dar um beijo hoje de manhã" (e antes tivesse nunca se lembrado), outros bem apagados e ainda uns de quem não sabe o que dizer.
como sempre, nenhum presente. tudo para depois, depois, depois... e um bolo simples, pequeno, sem nenhuma vela, na minha frente. e na minha cabeça um chapeuzinho desses de aniversário de criança. em volta, tudo escuro. tudo no seu devido lugar: no campo das idéias concretíssimas.
conversa para crentes, religiosos, lorotas no mais. esse não é o mês do cachorro louco, é o meu mês.
e eu gosto dele porque ele é 8.
porém, não gosto do resto, que é detestável. não gosto e abomino as idéias de comemorar não sei o quê nem de qual jeito. deixo para os próximos anos, para o ano dos 28 anos, que é o próximo em que a coincidência vai se dar. quando lá, estarei bem longe daqui. longe e pronta, com um ar mais interessado e mais maravilhada com a quantidade de vida que ainda virá pela frente.
mas pelo menos nesse aniversário, absolutamente solitário, eu não chorei.
agora deixa eu acender as velinhas...

15.8.04

- oi, tu tem o novo do belle and sebastian?
(e ele colocou sonic youth pra tocar na loja)
- eu tenho. deixa eu ver ele aqui. vai ali e me diz onde que tá porque daqui de onde eu tô, não consigo nem ver nem chegar essa prateleira. tá atrolhado de coisas aqui.
- tá ali ó, bem em cima.
- mas esse é o do boston.
- não, do lado do do boston. é o segundo ou o terceiro.
- ah, vi aqui.
- quanto tá esse?
- 25. qual é mais o que falta pra ti?
- ah pra mim falta o verde.
- o verde? bah, tô com o verde aqui.
- tu tá com ele aqui?
- tô.
- quanto?
- 15.
- aiaiai, agora tu fundiu minha cuca! não sei qual dos dois eu levo...
- leva os dois, ué.
(e nisso entraram uns caras falando inglês na loja)
- ah, mas e dinheiro pra isso? eu só tenho pra levar um. (e claro que eu estava pensando que ele ia me dar um desconto ou sei lá)
- tu não tem crédito?
- não...
- tá e eu posso abrir uma bíblia pra ti?
- ã? uma bíblia?
- é, colocar lá versículo tal do capítulo tal.
(e eu estava completamente perdida, já que não entendia nada que ele dizia)
- hummm, acho que não. bom, eu vou levar o verde então.
- o verde? por que não leva o novo?
- ah sei lá, pra mim tanto faz.
- então leva o novo que é mais caro.
- tá, mas tu guarda o verde pra mim até quinta?
- guardo, claro. era pra ti isso mesmo, coisas do destino... eu não tava com ele aqui, fechei negócio com um cara hoje mesmo. tava te esperando aí o cd. quando a coisa é pra uma pessoa não tem, é pra ela e pronto e esse cd era mesmo pra ti.
- hehehe, tá certo. bom, guarda pra mim entonces...
- tá e quando é que tu passa aqui correndo de novo?
- na quinta-feira.
- então tá, vai ficar guardado. se tu não vier na quinta, eu continuo guardando mesmo assim.
- bah, obrigada. tchau hein, até quinta.
- tchau.

esse cara rende horrores. e ainda por cima me olha com uns olhos desse tamanho e fixos, apesar de ser meio estúpido às vezes, o que só faz eu achá-lo cada vez mais um máximo.
mas dessa vez não teve discontinho de 5 pilas... droga!

música de fundo: os replicantes - sexo e violência

13.8.04

o balcão preto lá na sala agora, com a sua última gaveta da direita para a esquerda ou vice-versa, que pertencia a ele, desocupada, ou ainda, com outro conteúdo.
sem mais aquele monte de papel, documentos, poucas e pequenas fotografias muito antigas... remédios de faixa preta.
e já faz quase uma semana que passou o dia, mas apesar da minha falta de tempo, ainda não pensei em outra coisa.
foi com ele que eu aprendi, indiretamente, a guardar tudo em gavetas, organizar tudo em caixas, em pastas e nunca jogar nada fora. nunca jogar nada fora...
mas é tão triste, apagado,porém,vivo e de um tom vermelho violento.
e quando chegava perto dessa data capitalista e sem fundamento, lá ia a professora de educação artística colocar seus alunos a fazer trabalhos, pinturas, cartões, etc. :
- afinal de contas, quem é que não gosta do seu pai? todo mundo ama o pai. o pai é a o farol da nossa vida, né? pois então, leiam o poeminha e façam um desenho que tenha a ver com o pai.
e era eu debruçada na mesa grande e retangular, ao lado de algumas outras coleguinhas medíocres que contavam histórias sobre seus pais e elas e como eles eram legais e cada um era melhor que o outro. eu muda. eu tentando enganar o papel com um desenho mal-feito, sem dizer nada, sem expressar nada. eu apenas garantindo minha nota no final do bimestre, até porque o tal trabalhinho jamais chegaria às mãos do meu velho. e não chegou mesmo. nem esse do farol e nem nenhum outro.
o que eu disse em voz baixa e que só eu ouvi foi que eu não amava meu pai.
e não raro eu até dizia que não tinha um, mas logo era desmentida, uma vez que ele me deixava na porta do colégio a vista de todos.
e então nem preciso dizer que o pior dia era o segundo domingo de agosto, de manhã bem cedo, quando minha irmã entrava no meu quarto e eu que não tinha dormido ainda, tinha que participar do teatro também, apesar de me manter distante.
era um presente, um abraço falso. inclusive esse último eu tentei muito evitar, fechando os olhos e me mantendo neutra e intocável no canto do quarto, sentada no chão, mas era impossível.
o trio do cinismo.
os meus olhos irritados e o humor também, que não conseguiam admitir tanto absurdo em tantos anos.
e absurdo ainda maior que todo esse, é a algumas casas de distância o vermelho persistir ainda com a mesma intensidade e os abraços todos, nada fazer diferença. o rumo dali em diante é imutável. as gavetas todas vazias, quer dizer, nem todas.
acho que a minha herança é realmente nunca pôr nada fora.

6.8.04

quando a porta bate até parece ter alguém aqui dividindo o espaço. e o vento quase derrubando a janela, fazendo balançar o vidro: é medo.
sem luz na frente da casa e os cachorros latindo desesperados, me foge a concentração...
um vulto gelado: a morte que não veio hoje, mas seu rastro num instante e num vácuo, posto que não consigo respirar. mas preciso alcançar a outra peça, fechar a porta, ficar sozinha de novo.
aí vem ele a passos lentos, cintilando os olhos.
mas se eu mexer esse braço o que há de acontecer?
essa chama fúnebre no meio do frio, na rua sem carros e alma alguma. também nem adiantaria.
num qualquer espelho a imagem (imaginação) que não há mas que meu pensamento disperso concretiza e assusta, me assusta.
mais esse ronco que me segue, ao meu lado, tranqüilo...
se eu mover, arredar o pé daqui, o que acontece?
tenho medo de até mesmo descer para debaixo das cobertas, não sei o que poderia encontrar ali, além dos livros e canetas que devem ter ficado sobre a cama, se o fizesse. a verdade é o nada. mas o nada, desagradável, também não quero encontrar. e olho olho, mas não consigo ver com tantos “mas” assim que mais questionam do que adversam.
uma passagem. melhor destapar os pés e ficar pronta para algo extraordinário que não extraordinariará coisa alguma. se a sede me toma, não tomo nada. me encontro imóvel com a respiração baixa agora que já voltou.
pensando no vazio de novo, ele parou de roncar...
me preparo sem busto para a frente e crio uma covarde coragem, dessas que assumem a alma dos perdidos no escuro e na batalha em meio a lágrimas, lerdos... porém, com uma espada não mão: um estrago! só enxergam a linha reta. e precisariam de mais?
foi quando pus o pé no chão o susto maior: sem comando, as três peças da casa se iluminaram novamente e todas ao mesmo tempo.

alguém no bairro com menos pesadelos ocultos e divagações sobre o negro com pontos indefiníveis me venceu, chegou até o telefone e chamou a companhia elétrica primeiro.
e justo agora que eu já me familiarizava com a idéia de que ali só tinha mesmo a minha própria pessoa...